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Entrevista com a Dra. Mannoun Chimelli: vida humana - valor e dignidade transcendentes!

A Dra. Mannoun Chimelli, autora de diversos livros, como Amar os adolescentes, Família & Televisão, Gastando tempo com os filhos, além de outros, concedeu uma entrevista a Paulo Faitanin, do site Portal Aquinate, a qual reproduzimos aqui.

Mannoun Chimelli é médica, especializada em Medicina do Adolescente, Pós graduada em Saúde Pública pelo Instituto Castello Branco da FIOCRUZ, Bolsista da Organização Mundial de Saúde para o Curso de Epidemiologia e Vigilância Epidemiológica em Doenças Transmissíveis na França  e África Ocidental Francesa, formada em Pedagogia com habilitação em Orientação Educacional pela Universidade Federal Fluminense e Orientadora Familiar pela Universidade de Navarra/Espanha. Também é conferencista sobre Adolescência e Família.

 

1. Em seus livros subjaz sempre uma incontestável valoração da vida e das relações humanas pautadas no respeito mútuo e no amor. Não raro encontramos exemplos de desamor no seio das famílias, nas ruas... na vida em geral. Sofrem particularmente as crianças e os adolescentes, público que seus livros tratam com especial cuidado. Qual é a razão do desespero atual dos adolescentes? O que fazer para acolhê-los e ajudá-los?

Dra. Mannoun: São muitas e complexas as razões que levam, não só os Adolescentes hoje, mas o ser humano em geral à desesperança, angústia, dúvidas. Dentre as múltiplas causas, destaco a desorganização familiar, o individualismo (cada qual na sua - isolamento, não participação nem partilha, egoísmo...), hedonismo, indiferença...

Todo ser humano necessita conviver, isto é, aprender a VIVER COM - e quando não se tem pai/mãe presentes, participantes, fica difícil aprender o que seja conviver.

O materialismo, que gera consumismo, leva também à valorizar mais o TER do que o SER assim como o  hedonismo, a busca do prazer pelo prazer e a fuga a tudo que possa representar sofrimento e dor. Podemos falar numa  verdadeira “cultura da morte” em que se observa  multiplicação das causas que acabam por impedir a vivência daquilo que faz parte da natureza humana, como são o nascer, a experiência da dor, do sofrimento, da morte natural.

À medida que reaprendemos a ouvir, admirar, buscar vivenciar valores, estar  em família, ser coerentes e, com carinho, saber exigir, acolheremos e ajudaremos nossos filhos e educandos. Falar em tom positivo, estimular, mas sobretudo DAR EXEMPLO com nossa própria vida. Basta estar atentos e observaremos como eles nos “cobram” coerência! Querem ser exigidos, mesmo que reclamem, porque tem sangue de heróis  e desejam crescer numa verdadeira “cultura da Vida e da Esperança”!

 

2. A TV dita normas e incita hábitos. No Brasil vive-se uma expectativa da chegada da TV digital. Isso tem sido propalado, entre os especialistas, como um importante instrumento de interação social. Quanto à sua importância não há dúvida, mas quanto ao seu uso não se tem tanta segurança assim, quando diante de programas e publicidades constatamos freqüente exploração da miséria humana. A Sra. analisou as principais questões que envolvem este tema num breve, mas muito eficiente livro. Poderia apresentar, numa síntese, o contraste entre a grandeza e a miséria da TV? 

Dra. Mannoun: A televisão é, em si mesma, um objeto e portanto, indiferente. Como a utilizamos é o diferencial. Por trás das propagandas, por exemplo, se nota a manipulação, seja de palavras, seja de objetivos, colocando ênfase nas “coisas” como razão de ser feliz, em detrimento dos verdadeiros valores, muitas vezes até ridicularizados: fidelidade, honestidade, beleza, lealdade... para só citar alguns. “Sou fiel ao ....(nome de supermercado)”. A felicidade está em possuir ... (nome e figura de um eletro-doméstico)”. “Seja livre... (use tal ou qual produto)".

Asim se vai banalizando subliminarmente o que realmente representa um VALOR em nossa vida, manipulando-se as palavras e distorcendo seu conteúdo.

Os programas deixam muito a desejar, sobretudo, se comparados à espetacular qualidade de nossas emissoras de TV, imagem, som, cores, etc. Há, sem dúvida bons programas - não nos esqueçamos de “EXPEDIÇÕES” que mostram  o quanto é belo nosso Brasil, programas infantis - Castelo RA-TIM- BUM, Sítio do Pica Pau Amarelo, alguns desenhos e filmes.

Importa - e muito! que os pais e adultos responsáveis pelas crianças e jovens, assistam os programas junto aos filhos e educandos - tanto quanto lhes seja possível! - não deixando que simplesmente, fiquem passivos e sozinhos ante a telinha mágica. Estando juntos, orientar, estimular o espírito crítico positivo, enaltecendo valores, mostrando a diferença entre o verdadeiro e o imaginário, o que é opinião e o que deva ser levado em conta.

Assim se pode trazer a sensibilidade  ao seu verdadeiro lugar, sem nos deixarmos seduzir pelo sentimentalismo fácil que não nos permita agir consequentemente, por exemplo, ante as misérias, tragédias, violência. Analisar com eles as razões que levam o ser humano a não sentir misericórdia, a julgar-se impotente ante situações que, na verdade, todos e cada um podem e devem melhorar. Aquelas propagandas, cenas de novelas, filmes, comentários - por exemplo, ofensivos à dignidade e valores humanos, devem nos levar a escrever, telefonar, manifestar-nos. Inteligentemente devemos fazer da televisão uma aliada e não inimiga.

 

3. Numa época em que se reduz a gravíssima questão moral do aborto a um problema de saúde pública, as crianças mais e mais são vistas como objetos descartáveis e não desejáveis. Isso atinge em cheio a paternidade e a maternidade, a família e especialmente os filhos que não virão à luz. Poderia a Sra. analisar as conseqüências de decisões políticas que contribuem para o incremento desta injustiça social? Como cientista, pesquisadora, médica, a Sra. entende que se trate efetivamente de assunto de saúde pública?

Dra. Mannoun: O aborto será questão de saúde pública à medida em que nos afeta a todos os cidadãos. Por que nunca se fala na seqüela dramática que deixa nos que o praticam....? Marcas que ficam, que afetam profundamente o psiquismo, a própria vida...

Devemos porém insistir sempre em que há um intuito organizado de destruir a FAMÍLIA, incentivando-se a desagregação familiar, introduzindo as leis do divórcio, a distribuição ampla e gratuita de contraceptivos, pouco interesse na EDUCAÇÃO com leis que não a favorecem, moradias que não contribuem aos espaços de convivência, estímulos na Mídia ao hedonismo, consumismo, egoísmo e individualismo e cultura da violência - filmes, novelas, programas de TV.... Assim, quando o fim último da vida se fecha em  egoísmo, na busca do prazer pelo prazer, as crianças vão sendo consideradas um estorvo, algo incômodo, descartável, indesejável.

Aquelas ações que seriam de Saúde Pública propriamente dita não são levadas em conta porque não se cuidam das Doenças Transmissíveis para as quais já possuímos meios de combate, inclusive aquelas que, já quase desaparecidas estão voltando ao cenário do país. Some-se o descaso com os órgãos de saúde, a não manutenção de Programas de distribuição de medicamentos essenciais como aqueles da Hanseníase, tuberculose, diabete, anti-hipertensivos, e os que são mais  específicos como os de manutenção aos portadores de diversos tipos de câncer e muitos outros.

E não podemos deixar de mencionar a absoluta ausência das políticas voltadas à infra-estrutura  de Saneamento  Básico - rede de água, esgotos sanitários, destino do lixo, incentivo à construção de moradias dignas, tão fundamentais para uma existência digna  e para os quais não se dispensa a devida atenção nem recursos materiais e humanos.

O aborto - nunca será demais insistir - é e será sempre um assassinato, um crime e urge tratá-lo como tal, sensibilizando as pessoas, divulgando o hediondo que é matar indefesos e inocentes, um crime hediondo, de brutal violência, que atenta contra o maior e mais importante dos Direitos Humanos - a VIDA.

 

4. Se a vida humana for reduzida a um monte de células organizadas ao acaso, não poderá ser decidido seu curso senão de uma maneira aleatória e pragmática. A pesquisa com células-tronco embrionárias tem posto no Brasil, na ordem do dia, o tema da vida e dignidade humanas sob um viés um tanto quanto utilitarista e relativista. Há muita desinformação ainda acerca do assunto. Poderia a Sra. dizer algo sobre esta importante questão?

Dra. Mannoun: Realmente há muita desinformação em torno do assunto. Para muitos, não interessa em formar a opinião pública, informando corretamente. Creio que na resposta à pergunta anterior já expus alguns dos pontos de vista com relação à VIDA e sua Dignidade. Quando a Ciência é desvirtuada de seu fim básico que é buscar tudo que favoreça, valorize e defenda a  VIDA HUMANA  e eleve sua qualidade de tal forma que possa alcançar toda a sua extensão e plenitude, forçosamente se cai no pragmatismo, na busca de interesses pessoais e de grupos econômicos, no esquecimento de quem é o HOMEM, sua origem e seu fim último.

As células tronco - em que pese sua grande utilidade quando empregada de forma científica-  (aquelas células tronco do próprio indivíduo ou do cordão umbilical), estão ainda em fase de estudos. Vale ressaltar que de modo algum se pode aceitar que sejam destruídas vidas - aquelas existentes nos embriões congelados  ou presentes nos laboratórios, porque, ainda que sob aparência de embriões, são seres humanos e não podem ser sacrificados sob a alegação de “salvar” outras vidas.

Há especialistas brasileiros de altíssimo valor estudiosos do assunto - remeteria a entrevista, por exemplo, às pesquisadoras e eminentes especialistas no tema,  Dra. Claudia Baptista da UFRJ,  Dra. Alice  Teixeira Ferreira da USP, que certamente poderão -  com mais propriedade, - oferecer aos leitores preciosas e atualizadas informações sobre o tema.

 

5. Tomás de Aquino ensina em uma obra que 'um pequeno erro no princípio torna-se grande no fim'. De fato, uma pequena desinformação no início gera muita polêmica no fim. Vejo que acerca dos debates sobre aborto, células-tronco, família e TV e tantos outros temas, falta uma formação adequada dos debatedores acerca do que é basilar: a consciência do valor e da dignidade da vida humana. A Sra. crê que para além de uma educação intelectual, a formação de valores morais nas crianças na família e na escola, com a motivação de professores, poderá surtir, a longo prazo, efeitos que condizem com o respeito devido à formação de consciências que saibam detectar os enganos nas falas e nos discursos que esvaziam a vida humana de sua dignidade? 

Dra. Mannoun: Sem dúvida, acredito na Educação especialmente na verdadeira Educação que abarca o ser humano como um todo, e não apenas a educação entendida como  freqüência à Escola! Urge resgatar nas famílias a consciência do quanto são importantes na vida dos filhos, na transmissão de  Valores e sua importância para o ser humano, assim como as Escolas, que devem ter claros para os Professores e para os Pais, seus objetivos educacionais quanto à Formação e não apenas informação.

Valores não oscilam como as Bolsas (de valores materiais!) ao sabor da economia dos países e governantes. Assim como 2+2 sempre serão 4,  dentro de cada ser humano sempre estão e estarão presentes os valores da LEI NATURAL inscritos em seu coração. São os DIREITOS - à VIDA, a ter e formar uma FAMÍLIA, à EDUCACÃO, (e garantia de Escolas e Professores preparados)  à  HABITACÃO, ao LAZER,  à SAÚDE (e portanto, ao acesso aos Serviços de Saúde), e à DIGNIDADE, enfim, todos os ítens que constam da Carta dos Direitos Humanos votada na ONU e que poucos países realmente se esforçam por cumprir...

A nós, como cidadãos livres, cabe-nos o dever de estar sempre atentos para que esses direitos sejam postos em prática, começando por nós mesmos, influindo com os meios de que dispomos - nossas cartas, e-mails, voto, sobre aqueles que nos dirigem, formando opinião em casa, estando presentes junto dos filhos, sendo generosos, sabendo abrir mão de interesses outros para CONVIVER , dar exemplo, formar, orientar. O melhor e maior investimento de um ser humano é dar a vida e formar, educar, ajudar a SER e crescer outro ser humano!

Dra. Mannoun Chimelli, valor e dignidade transcendentes

 

 

Publicado no Portal da Família em 27/05/2008

 

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