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CONTANDO O TEMPO

Norma Emiliano


O despertar trouxe presságio e mal estar. Ainda ouvia a voz do pai que na noite anterior, ao telefone, reclamava de dores musculares e da apatia da mulher, sua mãe.

O envelhecimento paterno provoca-lhe sentimentos antagônicos; desejo de aproximação e afastamento.

As lembranças da infância e adolescência lhe remetem à disposição, união e comprometimento paterno e profissional que cada um dos pais expressava. Havia alegria. Não tinham amigos. A família lhes bastava. Pela manhã, todos à mesa, comentavam diversos assuntos do dia anterior, enquanto a mãe apressadamente beijava-os na saída para o trabalho.

O tempo embaçou não só aqueles rostos queridos, mas também o seu cotidiano. Reagindo, levanta-se e no espelho observa os vincos em seu rosto que a passagem do tempo trouxera.

O silêncio que lhe envolvia a alma se quebra. Ao lado, vozes, sons do despertar familiar. Seus filhos falam e riem trazendo vida à casa. Apressa-se, deixando os pensamentos de lado indo ao encontro do seu mundo, no qual muito tem a fazer.

Quando tudo se aquieta, com tranqüilidade, traz aos pensamentos o pequeno recorte matutino. Percebe o medo que o confronto com o envelhecimento paterno lhe traz. Pergunta-se: por que sente pena e culpa? Por que não sente o prazer de ainda tê-los, de usufruir o carinho que lhe dedicam e de poder compartilhar a alegria de ser hoje a pessoa que ela é? Teve tantos bons exemplos e não consegue aceitar as mutações naturais pelas quais estão passando.

Sabe que seu pai mesmo reclamando de dores ainda participa do coro da Igreja, faz artesanatos em madeira e se dedica afetuosamente à mulher que já não consegue ser mais tão ativa, mas demonstra seu companheirismo cuidando para que o lar se mantenha ordenado e confortável. Nessas reflexões busca entender que passagem do tempo é inevitável e as mudanças fazem parte da vida. Todos têm altos e baixos e os obstáculos, em qualquer etapa da vida, podem ser encarados como ponto para evolução pessoal.

De volta ao espelho, olha-se e esboça um sorriso. Reconhece seus receios, pega o telefone e carinhosamente pergunta a mãe como foi o seu dia.


Norma Emiliano é Terapeuta de Família e Assistente Social, e mantém a homepage Pensando em Família.


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