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É Genocida a Política do Governo?
CICERO HARADA

Detesto enlatados! De todos os tipos. De sardinhas a filmes. Você poderá dizer que sou um passadista e que não há nada melhor e mais prático do que abrir uma lata e consumir. Não consigo me convencer e lamento o seu gosto.

Faço essa confissão, porque acabo de ler que a pediatra nissei, Clara Takaki Brandão, criou, em 1.973, a multimistura, composto de farelos de arroz e trigo, folha de mandioca e sementes de abóbora e gergelim. Ela levou sua multimistura para quase todos os municípios brasileiros.

A mistura, segundo ela, tem até 20 vezes mais ferro e vitaminas C e B1 do que a comida que se distribui nas merendas escolares de municípios que optaram por comprar produtos industrializados. Além disso, "fica até 121% mais caro dar o lanche de marca" e "é uma política genocida substituir a multimistura pela comida industrializada".

Foi graças a essa mistura, que o governo comemorou a redução de 13% nos óbitos de crianças entre os anos de 1999 e 2004.

Clara acredita que enfrenta adversários poderosos. Segundo ela, no governo, a multimistura começou a ser excluída da merenda escolar para abrir espaço para o Mucilon, da Nestlé, e a farinha láctea, cujo mercado é dividido entre a Nestlé e a Procter & Gamble.

Não sou técnico nessa matéria. Não sei se a multimistura é mais barata ou tem mais qualidades do que a merenda de produtos industrializados. Há um dado, contudo, que é relevante. Algo que vem sendo testado há mais de 20 anos, podemos presumir, até prova em contrário, é um bom produto. Não é preciso padecer desta minha solene repulsa a enlatados, para chegar a esta conclusão.

As acusações da pediatra Clara Takaki Brandão são gravíssimas e precisam de respostas transparentes, especialmente, no momento em que o peso dos tributos interfere no crescimento do país e inúmeras ações governamentais são objeto de graves denúncias de inadequações técnicas e corrupção.

Tudo isso, convenhamos, não cheira nada bem. Não posso, no entanto, condenar aprioristicamente. Minha formação jurídica não mo permite.

Penso que o ministro Temporão, ao tomar uma decisão dessa envergadura, deve trazer as razões que o levaram a substituir a multimistura.

Deve responder, fundamentadamente, aos reclamos de Clara Takaki Brandão e aos apelos do senador Álvaro Dias (PR) para que reveja a decisão da substituição.

Não bastam singelas afirmações de que não é obrigado a manter a multimistura, nem a de seus assessores de que “o programa não existe mais.”

Eu, com a minha incompatibilidade vital, posso a meu talante repelir os enlatados. O administrador público, porém, ao descartar a multimistura, deve fundamentar o ato e apresentar, com nitidez, todos os motivos técnicos da medida.

Se não o fizer, “quem cala consente” e as gravíssimas acusações como a de maior custo para a sociedade e, a pior delas, de que “é política genocida substituir a multimistura pela comida industrializada" presumir-se-ão verdadeiras. Não quero acreditar que, além dos nascituros, Temporão queira também abortar os nascidos.

 

CICERO HARADA: Advogado, Conselheiro da OAB-SP

cicero.harada@terra.com.br

 

Publicado no Portal da Família em 25/11/2007

 

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