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O Quanto nos Significa Escolher

Sílvio Reda

 

Ainda não descobrimos as estações amenas da existência. Oscilamos, nas nossas emoções e sentimentos, entre o tórrido escaldante e o frio congelante. Para nós, experimentar significa tirar pedaço, aniquilar. Para nós, as relações têm de ser, forçosamente, vantajosas, senão sentido algum terão. Presentemente, ainda é vergonhoso ceder ante as diversas circunstâncias e heróico teimar obstinadamente ainda que seja para, simplesmente, o dito adversário, destruir. Para nós, a terra permanece sendo vista como realidade plana e não esférica, por onde devemos empurrar, à queda, nossos chamados desafetos, aqueles que se interpõem, mesmo que altruisticamente, ante nossos interesses que devem e "merecem" prevalecer, segundo nossa ótica, perante qualquer outro valor e direito alheio.

Somos movidos, quem sabe abastecidos, por notícias e, nesses últimos dias, duas trouxeram consigo, pelos próprios fatos, reflexão. De um lado a eleição do novo Presidente da Câmara Federal e de outro o assassinato da religiosa missionária, no norte do país, irmã Dorothy.

E lembramos, já na primeira reflexão que fazemos no tocante a ambas as notícias e o circunstancial que as instruem, a matéria de capa da famosa Revista Veja. Lá na capa que permaneceu estampada nas bancas de todo o Brasil, víamos o Presidente da Câmara em foto, cuja montagem o destacava coroado, como rei. Ao sopé da página, em uma tira de, quem sabe, três dedos, a foto do corpo inerte da missionária, alvejada por balas por pistoleiro profissional.

Não nos foi custoso avaliar e valorar a situação que ante nossos olhos se descortinava, ainda que somente pelas fotos tiradas de ambos os fatos. Não nos foi difícil, também, concluir pelo que toleramos como de valor significativo e o que relegamos como expressão de tal virtude. E aqui não vai nenhum juízo da pessoa de cada noticiado, porém sim dos valores que cada qual representa.

Um, notoriamente, pelo próprio discurso que oferece e veicula a seus ouvintes, deseja a continuidade e perpetuação de vantagens, regalias, ainda que estas sejam, manifestamente, uma agressão a nossa realidade, seja de sociedade, seja como país. O corpo, alvejado, sem coroa, quando animado pela irmã missionária, desejava distribuição de dignidade e justiça aos menos favorecidos da região onde escolheu, por devotamento, viver. Queria o respeito ao homem, mas não só a ele, à natureza, sua co-irmã, estimulando que essa fosse explorada nos limites de sua própria capacidade de regeneração.

Aquele que firma pelos privilégios não amparados por nenhuma lógica nem mesmo por alguma condição ética recebeu, de seus pares, a coroa, em destaque. Aquela que firmava por justiça, igualdade e tantos outros ideais, mereceu, destes mesmos pares, balas mortais, servindo como de alvo, ainda que vivo, ainda que humana.

Ainda perfilam entre nós "profissionais" que se habilitaram a matar, isso mesmo, matar. São pessoas que "vivem" da vida que retiram de seu semelhante. O algoz, o carrasco de ontem é chamado, hoje, de pistoleiro. A cruz antigamente tomada nos ombros, hoje é o projétil, o desrespeito, a desconsideração a si, ao outro, à natureza, o desemprego, as regalias pelo mérito do demérito, tudo isso que tanto nos machuca e ainda nos surpreende, visto seu intrínseco absurdo.

E sentimos, assim, descontentes, que a história se repete em um ciclo que parecia esgotado ou sem condições ideais de repetição. Entre Barrabas e Cristo, a Barrabas a coroa da liberdade e da consideração; a Cristo, a condenação e a humilhação da cruz.

Na verdade, em uma situação como esta somos todos recrucificados. Por nós perpassam os cravos, a lança e verga-nos o peso do madeiro. A história da humanidade restou dividida naquele dia em que, deliberadamente, optamos por Barrabas e, ainda hoje, não conseguimos reverter a insensatez de estúpido ato que, se não nos incomoda na consciência, nos agride na própria capacidade de produzir e manter a esperança por dias melhores, que, certamente, virão.

 

A Fernanda Melchior Griggio, visto que de nosso encontro surgiu o Amor e de nosso Amor revela-se uma magnífica e dinâmica Vida, plena de bem-querer e perfeita em abundância de bem-estar.



* Sílvio Reda é advogado, especializado em direito do consumidor, e Juiz Leigo em Porto Alegre.
email: beckreda@yahoo.com.br

 

 


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