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Coluna "Imprensa"

Verdade e liberdade - a aposta do papado

Carlos Alberto Di Franco

São Paulo (SP) - Recentemente, reli a encíclica Veritatis Splendor, texto obrigatório para quem tem o ofício, comprometedor e fascinante, de tentar iluminar a verdade profunda dos fatos e, ao mesmo tempo, defender aquilo que está no DNA da raça humana: a liberdade. João Paulo II, um papa dotado de extraordinária cabeça filosófica, pretendeu resgatar este “mundo desconjuntado”, como tristemente observava Hamlet. Na encíclica, o pontífice falecido advertiu para a “decadência do sentido moral” na sociedade e suas conseqüências dramáticas para a democracia.

“Uma democracia sem valores se transforma com facilidade num totalitarismo visível ou encoberto”, afirma o texto com um realismo cortante. “A origem do totalitarismo moderno deve ser vista na negação da dignidade transcendente da pessoa, sujeito natural de direitos que ninguém pode violar; nem o indivíduo, nem a família, nem a sociedade, nem a nação, nem o Estado.” Trata-se de uma vibrante defesa da liberdade e dos direitos humanos.

A democracia é, sem dúvida, o regime que melhor funciona. É o sistema que mais genuinamente respeita a dignidade da pessoa humana. Qualquer construção democrática, autêntica e não apenas de fachada, reclama os alicerces da lei natural. No respeito aos seus princípios está o melhor antídoto contra aventuras ditatoriais. Por isso, não obstante a força do marketing que apóia certas campanhas contra a vida, é preocupante o veneno antidemocrático que está no fundo de certos slogans do governo.

Não se compreende de que modo obteremos uma sociedade mais justa e digna para seres humanos (os adultos) por meio da organização da morte de outros seres humanos igualmente vivos (as crianças não nascidas). Há um elo indissolúvel entre a prática do aborto, o massacre do Carandiru, a chacina da Candelária e outras agressões à vida: o ser humano é encarado como objeto descartável.

Os argumentos esgrimidos em defesa dessas ações, alguns cruéis, outros carregados de eufemismos, não conseguem ocultar o desrespeito ao primeiro direito humano fundamental, base da sociedade democrática: o direito à vida. Situações traumáticas merecem compreensão e podem representar atenuantes, mas jamais devem justificar a eliminação de uma vida. O aborto, estou certo, é o primeiro elo da imensa cadeia da violência e da cultura da morte. Após a implantação do aborto descendente (eliminação do feto), virão inúmeras manifestações do aborto ascendente (supressão da vida do doente, do idoso e, quem sabe, de todos os que constituem as classes passivas da sociedade). Delírio premonitório? Penso que não. Trata-se, na verdade, do corolário de um silogismo dramaticamente lógico. A vida deixa de ser um fato sagrado. Converte-se, simplesmente, numa realidade utilitária.

Uma das doenças culturais do nosso tempo é o empenho em contrapor verdade e liberdade. As convicções, mesmo quando livremente assumidas, recebem o estigma de fundamentalismo. Impõe-se, em nome da liberdade, o dogma do relativismo. Trata-se, na feliz expressão do cineasta marxista Pier Paolo Pasolini, da “intolerância dos tolerantes”, que, obviamente, conspira contra o sadio pluralismo democrático. Bento XVI denuncia, com razão, a ditadura do relativismo como um dos grandes desvios da cultura contemporânea. Ao comentar o pensamento do novo papa, René Girard, professor emérito de antropologia da Universidade de Stanford (EUA), sublinha que o “pós-modernismo é dramático ao dizer que não há valores absolutos, que não há uma verdade, que a linguagem não pode alcançar a verdade.” Bento XVI, à semelhança de seu antecessor, “sabe por experiência pessoal que sem religião as sociedades caminham para a ruína.”, conclui Girard.

Qualquer pessoa sensata é capaz de intuir que os estragos causados pelo fundamentalismo relativista são dramaticamente evidentes. O dogma do subjetivismo não fraturou apenas a espinha dorsal da democracia ocidental. Na verdade, ele está no cerne da espiral de violência e insensatez que, diariamente, vai esgarçando as relações humanas. Por isso, a encíclica de João Paulo II, permeada de extrema coerência, é de grande atualidade. Ela propõe o urgente desafio ético de conjugar liberdade e verdade.



 

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Fonte: Opinião em Foco - 15/06/2005

Carlos Alberto Di Franco, diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciência Sociais – IICS (www.iics.edu.br) e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com).

E-mail: difranco@iics.org.br

 

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