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Fabio Toledo

Coluna "Assuntos de Família"

O casamento acaba quando termina o amor?

Fábio Henrique Prado de Toledo

Outro dia presenciei uma conversa entre três amigas. Estavam descontraídas num restaurante, quando uma delas começou a se queixar do relacionamento com o esposo: “Parece que somos dois estranhos. Quase não conversamos. Nem sei quando foi a última vez que tivemos uma relação íntima... Será que vale a pena manter uma farsa?”. Após ouvir atentamente o desabafo, uma das que até então ouviam, concluiu: “Para mim, o casamento acaba quando termina o amor”.

Penso que essa última frase bem merece a nossa atenção. Será mesmo que o casamento acaba quando termina o amor?

Durante muito tempo prevaleceu no Ocidente modelos familiares que pareciam estabelecer certa ruptura entre casamento e amor conjugal. O matrimônio parecia ser na prática um assunto entre famílias, um modo de estabelecer vínculos novos, de aumentar o influxo social ou político, ou de obter outro tipo de vantagens, no qual pouco contava o amor. Esse se entendia como um requisito de felicidade, mas não como fundamento do matrimônio e da família.

Segundo essa concepção, que prevalecia tanto no modelo patriarcal como no burguês, o matrimônio estava relacionado com um dever: ao contraí-lo se cumpria um dever em relação aos próprios ascendentes e se estabeleciam novos deveres em relação ao cônjuge, aos filhos etc. Em todo caso, o que se via como essencial no matrimônio era o cumprimento desses deveres. O amor, se dizia, viria depois.

Na atualidade essa mentalidade ainda persiste em algumas sociedades tradicionais da África e Ásia (Índia, Paquistão, etc.), enquanto que no Ocidente o panorama parece haver mudado, inclusive de modo radical: o essencial no matrimônio parece ser ao amor; é o amor que faz o matrimônio. Tanto que, se ele desaparece, se dissolve o próprio matrimônio.

Feita essa breve evolução histórica, que extraímos de um artigo intitulado “Propiedades del Amor Matrimonial”, de Montserrat Gas, cabe-nos enfrentar se amor e compromisso são coisas verdadeiramente incompatíveis.

Inicialmente, penso se trata de uma feliz mudança. De fato, que bom que homem e mulher alcançaram a liberdade de escolher os seus cônjuges. Mais ainda, que podem fazê-lo exclusivamente por amor.

No entanto, quando se afirma que, como consequência da nova concepção, o casamento acaba quando termina o amor, devemos nos indagar sobre o que é, na essência, o amor conjugal. É que esse, embora seja um sentimento, não se resume a isso. É, também, um ato da vontade que se traduz no desejo e na determinação de buscar o bem da pessoa amada.

Nesse sentido, amor e compromisso não são incompatíveis. O que desencadeia agora a decisão de se constituir a união conjugal é o amor, como tal entendido também um sentimento forte de atração. No entanto, ao mesmo tempo em que os cônjuges decidem unir suas vidas movidos pela afetividade, assumem também um compromisso de cultivar esse relacionamento. A “obrigação” que assumem um perante o outro, portanto, é precisamente de cultivar esse amor.

Um casal de noivos, prestes a se casar, deparou-se com um dilema. Disse ela, certo dia ao noivo: “Olha, nós vamos nos casar porque nos amamos, certo? Mas e se você deixar de me amar um dia?... Ou, e se você desistir de ao menos tentar manter esse amor que temos hoje?”. Ao ouvir isso, ele passou a alimentar a mesma dúvida que a noiva. E então chegaram a uma solução um tanto ... jurídica. Foram dizer ao Pastor (eles são evangélicos) que presidiria a cerimônia: “Nós decidimos nos casar, porém, queremos que conste do nosso pacto que vamos assinar que cada um assume o compromisso de querer amar o outro cada vez mais”. O Pastor não escondeu um sorriso de satisfação, e respondeu amavelmente: “Não é preciso acrescentar nada na promessa que farão um ao outro, pois é precisamente esse o compromisso que irão assumir publicamente quando decidirem se casar”.

casal até o fim

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Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC.

e-mail: fabiohptoledo@gmail.com

Blog: http://fabiohptoledo.blogspot.com.br/

Publicado no Portal da Família em 09/11/2014

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