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Eduardo Gama

Coluna "Poemas e Canções"

O bebê anencéfalo e o milagre da vida

Eduardo Gama

Enquanto escrevo este artigo, Marcela de Jesus Ferreira está com oito dias de vida. Deve-a a sua mãe, Cacilda. A filha tem anencefalia e está com os dias contados desde a gestação, mas a mãe jamais cogitou abortar.

Os "bem pensantes" promotores do aborto dizem que carregar um bebê nestas condições é um sofrimento e, segundo esse ponto de vista, inútil, como todo sofrimento. Ao jornal Estado de São Paulo, Cacilda declarou:
"Sofrer a gente sofre, mas ela não pertence a mim, mas a Deus, e eu cuido dela aqui". Profunda frase de uma agricultora, mostrando que a sabedoria é um dom, não uma erudição. Profunda porque sabe que a vida não se encerra com a morte, pois diz "eu cuido dela aqui" e sabe que a sua vocação materna a impele a cuidar de Marcela "aqui", na Terra. Entende que a filha morrerá, mas "ela pertence a Deus" e a ele voltará.

Enquanto isso, Cacilda faz o que toda mãe que ama faria, amamenta, cuida e diz que "cada segundo dela é precioso para mim". Afinal, quem ama fica feliz com a existência de quem ama, não importa em quais condições e
por quanto tempo, apenas sabe que dedicará a sua vida para cuidar daquela outra que lhe foi confiada: "Considero a vida dela até agora um milagre muito grande e vou ficar aqui até Deus achar que é a hora dela partir", falou ao jornal a mãe.

Em sua simplicidade, Cacilda sabe que um ser humano não é um amontoado de células manipuláveis em laboratório ou alguém que pode ser morto para"não causar sofrimento". Sofrer, todo mundo sofre e sofre, às vezes, muito.

Contudo, como Platão diz pela boca de Sócrates no dialogo Górgias, pior não é sofrer um mal, mas causá-lo, não é ser vítima, mas algoz, pois quem comete o mal se transforma naquilo que comete, enquanto quem sofre o mal, tem a chance de engrandecer-se, como próprio Sócrates ao ser obrigado a tomar cicuta.

Como não tenho a simplicidade de Cacilda, citarei mais exemplo literário. No genial livro "Os irmãos Karamazov", Dostoievski descreve três irmãos separados na infância e que se reencontram quando estão todos na casa
dos vinte anos. Dimitri é um sentimental que sabe não ser uma boa pessoa, mas não consegue evitar seus erros, Aliocha, o mais novo é uma boa pessoa, ainda ingênua, mas luta pelo bem e Ivan é inteligente e revoltado. Um fato importante para a narrativa é a ação de Ivan. Ele não comete crime algum, mas alicia um empregado da casa a cometê-lo. Com argumentos "intelectuais" impele um pobre homem ao mal, revelando assim o seu ódio.

Contei toda essa história porque penso que aqueles que com todo o conhecimento médico e mesmo perante casos como esse defendem o aborto, parecem-me comportar-se como Ivan. No ano passado, uma mãe foi autorizada a fazer o aborto de um bebê anencéfalo. Disse o juiz: "gestação infrutífera ora impugnada trará riscos à própria saúde da gestante, que poderá sofrer por toda sua vida dos danos, senão os físicos, dos prejuízos psicológicos advindos do fato de carregar nove meses criança em seu ventre fadada ao fracasso" (Folha, 23/12/2005). Vejam a argumentação: "gestação infrutífera", como se a vida só valesse a pena se perfeita. Além disso, quem realmente quiser saber sobre os traumas de uma mãe, visite o site
www.rachelsvineyard.org, pertencente a uma associação que dá apoio a mulheres que abortaram.

Recomendo a seção: www.rachelsvineyard.org/postabortion/stories.htm. Também deve-se pensar que o bebê anencéfalo pode ser um doador de órgãos e salvar outras vidas.

Por outro lado, o livro de Dostoievski acaba celebrando a vida por meio de Aliocha, que confia, fundamentalmente, nas crianças.



 

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Eduardo Gama, professor de redação e literatura em Jundiaí e Campinas. Mestres em Literatura pela USP, tradutor, jornalista e publicitário. É autor do livro de poemas "Sonata para verso e voz" e editor dos sites www.doutrinacatolica.com.br e www.revisaoetraducao.com.br

e-mail: redator@portaldafamilia.org

Publicado no Portal da Família em 11/12/2006

 

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