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Coluna "Escola da Aldeia"

Porque
(uma homenagem ao Papa João Paulo II)

Paulo Geraldo
pjgeraldo@yahoo.com.br

Já tinhas dito que sentias a morte perto. Tremia-te a voz e tremiam-te as mãos e tinhas o corpo cheio de dores. Depois, enquanto a tua imagem diminuía e se apagava diante do nosso olhar, crescias ainda mais nos nossos corações.

Em ires até ao fim houve uma forma de nos gritares aquilo que a tua voz já não era capaz de dizer.

Já de muitas maneiras te tínhamos agradecido, mas é conveniente dizer-te de novo um obrigado imenso.

Porque só tu nos disseste a verdade.

Os outros disseram-nos aquilo que queríamos ouvir e aquilo que nos agradava - pois queriam ganhar adeptos e lucrar com isso - mas tu, como amigo sincero, não tiveste receio de usar as palavras verdadeiras. Ainda que fossem duras, ainda que corresses o risco de ficar sozinho.

Porque, se o caminho real era empinado e agreste, não nos indicaste outro mais à medida da nossa preguiça, da nossa avareza, da nossa luxúria. Não quiseste enganar-nos. Disseste-nos como podíamos encontrar-nos conosco mesmos e confiaste em que seríamos capazes de ser fortes.

Porque os outros quiseram enriquecer à custa de ficarmos desnorteados, e tu quiseste tornar-nos ricos gastando o teu sangue e a tua vida.

Porque o teu dia começava cedo e acabava tarde. Porque tinhas, com tanta idade, a agenda tão cheia. Rezavas e trabalhavas, mas ao rezares trabalhavas e ao trabalhares rezavas. Ninguém sabe dizer quando é que descansavas.

Porque foi sempre para ti que olhamos em primeiro lugar, quando os poderosos preparavam novas guerras nos lugares onde há petróleo, quando o ódio derrubava edifícios, quando chegavam notícias de novos "avanços" científicos que pareciam fantásticos, mas nos cheiravam a esturro.

Porque os teus olhos eram limpos e o teu sorriso era bom e o teu coração bateu sempre ao lado do nosso.

Porque eras um dos nossos nas tuas vestes brancas. Porque envelheceste cuidando de nós. Porque foste baleado por dizeres a verdade. Porque não andavas mascarado, como os outros.

Porque não ficaste no teu palácio de Roma, mas vieste ter conosco até aos cantos mais pequenos do mundo e quiseste aprender conosco e sentir os nossos entusiasmos nobres. Porque quiseste falar-nos nas nossas línguas.

Porque quando te apresentamos as nossas crianças tu as beijaste e abençoaste sem fingimento, como quem faz uma coisa muito, muito importante.
Porque quando olhavas para nós vias uma bondade e uma força e uma beleza em que já não acreditávamos.

Porque o pequeno e o grande tinham um lugar do mesmo tamanho no teu coração. Porque não te preocupaste apenas com os que te eram próximos no pensamento, mas resolveste carregar sobre os teus ombros as dores, as preocupações, os lutos e as lágrimas de todos os homens de todas as religiões.

Porque guardavas no teu coração as nossas dores e sofrias com elas e nós somos muitos. Porque de tanto te abraçares ao teu Cristo crucificado te tornaste tão humano. Porque também escreveste as tuas poesias.

Porque salvaste tantas vidas. Porque trabalhaste pela paz. Porque chegaste ao fim de um caminho tão longo cheio da juventude do amor. Porque morreste repleto de obras e de sonhos, olhando para as tuas mãos, tão cheias, com a impressão de as veres vazias.

(Paulo Geraldo - abril/2005)

Paulo Geraldo é professor de Língua Portuguesa em Portugal, e responsável pelo site Aldeia



 

aldeia.no.sapo.pt

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