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TV: Ação e reação ?

 

 

      

Por Mannoun Chimelli

 

 

        Diante de tantas aberrações, nós agimos ou reagimos? Aceitamo-la passivamente como "inevitáveis"...? Limitamo-nos a queixumes, reclamações e lamúrias estéreis? E... por quê?

         Urge exercitar a cidadania perante aquilo que julgamos não estar bem! Torna-se cada vez mais necessário que tenhamos atitudes concretas de saudáveis rebeldia: é hora de agir!

            Agir é ir à frente, atuar antes, não esperar que as coisas aconteçam, ou, se aconteçam, impedir que se repitam. Mas..., perguntará o leitor, o que posso fazer, como posso atuar?

            Um autor dos nossos dias comenta que há três atitudes possíveis perante a mídia.
 
-         Liberal: é a atitude dos que só conseguem ver o que há de positivo na televisão, julgando "exagerados" os temores e recomendações. - "A televisão é para me ajudar a relaxar, a distrair-me, a ter momentos de lazer... Preciso refazer as forças, assistir ao meu telejornal..." - "Afinal, que mal pode haver em que as crianças fiquem até mais tarde, assistindo aos programas e a vídeos?..." - "As pessoas exageram quanto aos malefícios da TV. Acho que as crianças precisam estar cientes da <<realidade>> que as envolve, e, na verdade, também não tenho muito tempo nem paciência para lhes dar muitas explicações..."

Está baseada na "teoria  da passividade", no "deixa ficar como está para ver como é que fica". Na verdade, é o egoísmo que fala mais alto nesta atitude, o egoísmo de uns pais que não desejam ser incomodados nem gastar tempo com os filhos. Assim, vão logo dizendo: "Não chateia, vá ver televisão" - e largam os filhos ao sabor... do quê? Não deveriam esquecer-se da notável capacidade de aprendizado e imitação das crianças!

-         Cautelosa ou de vigilância permanente: consiste em defender-se da "manipulação por interesses", sejam ele econômicos, políticos ou totalitários; são os pais que, por exemplo, não hesitam em estabelecer limites para os horários e programas, mesmo que isso signifique "enfrentar" umas crianças aborrecidas durante algum tempo... Mas que não dedicam o tempo necessário para formar o senso crítico das crianças nem tomam qualquer outra atitude para melhorar a situação.

-         Crítica: consiste em formar juízos. É ensinam a ver, a julgar, a agir em conseqüência do que se viu e pensou, e a exercer uma pressão social, isto é, valorizar e utilizar mais o "jus sperneandi", o "direito de espernear", que a população, geralmente acomodada, não costuma defender.


Esta última, a atitude crítica, foi a adotada por um grupo de pais do Rio Grande do Sul, que se dirigiram à Nestlé devido a uma propaganda em que um grupo de criança invadia um supermercado à noite, burlando o vigia, para roubar no freezer um produto da mesma Nestlé. Alertada, a Companhia - com muito bom senso - retirou do ar esse comercial, entendendo que era um aliciamento ao roubo.

Quando percebemos algo inconveniente na televisão, por que não:

-         escrever cartas com reclamações ou sugestões e entregá-las nas lojas de Classificados dos jornais da nossa cidade? Ou ainda enviá-las para as secções do tipo "cartas dos leitores", dedicadas aos comentários e às queixas da população? Como se afligem as empresas, quando encontram o seu nome ali publicado!

-         Passar um fax ou um e-mail para a emissora, a agência de propaganda ou o patrocinador do programa e/ou comercial, comunicando que discordamos daquilo - e por quê -, e acrescentando talvez: " A minha família, amigos, conhecidos e quem mais puder ser contactado deixará de utilizar o seu produto e/ou serviço!"...

-         ou, pelo menos, telefonar para o serviço de atendimento ao consumidor ou o departamento de reclamações do patrocinador ou o ombudsman da empresa televisiva ( começa a ser mais comum esta figura) a fim de reclamar, protestar sobre tal ou qual programação quanto for o caso, sem esquecer de também elogiar o que estiver bem - e talvez gastando nisso os R$ 3,00 das ligações ilusórias e enganosas que nos prometem prêmios mil...

 


Pode o leitor questionar:

-         Mas será que algo disto funciona?

-         É só experimentar, como fizeram aqueles pais do Sul! Basta pensar que o preço que os patrocinadores pagam por segundos de anúncio, especialmente nos horários ditos "nobres", é altíssimo, e se as vendas caírem, como ficarão? E com as emissoras de canal fechado, pagas, o resultado é imediato!

Não pensemos que estas atitudes concretas sejam insignificantes, tolas, e que não produzirão efeito algum. Você sabia que as emissoras e os jornais estimam que cada carta, nota ou telefonema equivale à opinião de 600 pessoas!?  Claro que a sua voz é importante e tem representatividade!

  Outra possibilidade de tornar a televisão mais positiva está em procurar, por exemplo, unirmo-nos as pessoas que desejam também melhorar algo com relação à "telinha" e formar, a partir  daí, grupos que possam conhecer quem seja atuante dentro das emissoras.

  Talvez seja até possível - antes de transformar os sonhos em realidade, é preciso sonhá-los -, dialogar mais ativamente com o pessoal da televisão, promover roteiristas capazes e decentes, dar sugestões para a elaboração de guias de programação... Os temas poderiam apresentar conteúdos do quotidiano, bem vivos, atuais, que ajudassem a pensar, refletir, de uma forma alegre, educativa, divertida e animadora; deveriam ser vibrantes, levando a desejar viver e a ver a vida com olhos bons, saudáveis, esperançosos.

  Querem um exemplo de criatividade e bom gosto? A propaganda de Natal do Norte Shopping, Rio de Janeiro, 97. Bem brasileira, alegre, natalina de verdade! Pastorinhas, cantando e dançando, ao som de música adequada, em direção ao Presépio bem feito, toda a interpretação leve, encantadora para as crianças - trazendo a imagem, como sempre se representou, da associação do Natal com as crianças. Esta propaganda confirma a verdade de que somos criativos quando queremos, e que podemos - se o desejamos - fazer belos programas e criar entretenimentos portadores e causadores de alegria e bem-estar.

Sempre é oportuno repetir que os canais de televisão são uma concessão do governo, isto é, do povo através do governo, que não podem nem muito menos devem retornar ao próprio povo de uma forma negativa, prejudicial, deletéria! Não desejo tomar posição aqui quanto à questão da censura estatal, que sempre se pode mostrar uma faca de dois gumes; mas quero proclamar alto e bom som que é preciso fazer alguma coisa, e Já.

  "A televisão - escreve o jornalista Carlos Alberto di Franco - em si é um veículo fascinante. Pode, se quiser, abrir infinitas janelas educativas e culturais. Ma pode também aviltar, robotizar, reforçar atitudes anti-sociais. Alguns, honestamente preocupados com a escalada da violência eletrônica, querem que as coisas mudem pela ação dos outros, por decisão das emissoras, por intervenção do Estado ou pela censura. Mas não é por aí. Precisamos superar a síndrome paternalista. O governo não fará nada. E as emissoras, num jogo, de faz-de-conta, declararão fidelidade ao Código de Ética da Abert. E la nave va. Não, caro leitor, o problema é seu. É de todos nós".

 

(*) Retirado do livro "Família & Televisão", de Mannoun Chimelli,

     Editora Quadrante, São Paulo, 2002 .

      

TV: Ação e Reação

 

 

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