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Uma opção para as crianças

Apesar da cultura da imagem, os livros ainda são a melhor forma de estimular as crianças a pensar

LUIS DANIEL GONZALEZ

Há muitos séculos, o número de livros e leitores - assim como o acesso à leitura por parte de maiores camadas da população - não deixou de crescer. Entretanto, ao constatar os efeitos devastadores da cultura da imagem, alguns concluem que os leitores de hoje são piores que os de ontem, afirmação muito discutível. As coisas mudaram: muitos esquemas imaginativos foram superados pelo cinema e pela televisão. Já não servem os velhos romances de letra pequena e papel barato. Nunca voltarão as tardes de verão com a única companhia dos livros do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Os modernos livros ilustrados são outra maneira de introdução à leitura.

A quem se lamenta do pouco que seus filhos lêem e da nefasta influência da televisão, basta lembrar uma tirinha de Calvin e Haroldo, o menino de seis anos e seu tigre de pelúcia criados por Bill Watterson. Nos quatro primeiros quadros, vê-se uma luta violentíssima em uma revista de aventuras, que termina com o herói metralhado e dizendo: "senti-me como se minha coluna tivesse se partido em pedaços." Os quadrinhos seguintes mostram um Calvin angustiado, que deixa a leitura da revista e liga a televisão. Chega sua mãe que, amavelmente, desliga o aparelho enquanto diz: "Não, porque há muita violência na televisão. Por que você não vai ler alguma coisa?"

A expressão "livros ilustrados" engloba produtos distintos entre os quais há uma forte osmose: contos ilustrados, em que o texto tem praticamente autonomia em relação às imagens; e os quadrinhos, em que texto e ilustração são inseparáveis. No século 19, passou-se das ilustrações puramente decorativas àquelas em que aparecia uma imagem na capa e acompanhavam cenas concretas da narração. Logo surgiram relatos com imagens ligadas ao texto de modo indissolúvel: os contos ilustrados.

Esse novo tipo de livro ilustrado caracteriza-se por usar gravuras grandes, que, com freqüência, ocupam páginas inteiras, simples ou duplas. As ilustrações não são um complemento do texto, mas sim o próprio texto. Seu conjunto quer ser narrativo e ter o mesmo formato seqüencial do livro. Pode usar recursos gráficos dos quadrinhos, mas não têm o mesmo dinamismo nem utiliza o mesmo tipo de verossimilhança. Pretende ir mais longe que os tradicionais contos ilustrados. Aproveitando o impacto de gravuras grandes, que podem ser vistas isoladamente, deseja conter e despertar emoções, chegar à cabeça e ao coração.

A princípio, ler é escutar, mas também olhar e contemplar. Se a influência dos primeiros relatos permanecerá pela vida toda, o mesmo pode-se aplicar a esses primeiros livros ilustrados que são como brinquedos, que se olham e se lêem muitas vezes. As ilustrações podem limitar-se a completar a informação que o texto leva à mente, mas podem introduzir novos elementos na narração, ou ir além e favorecer uma compreensão sem descrições ou enriquecer o texto falado ou escrito pulsando diversos recursos afetivos ou intelectuais.

A cultura da imagem não apenas interfere e altera as emoções, mas também dificulta um pensamento coerente e bem estruturado. Só uma aprendizagem de leitura bem-feita pode dar às crianças as primeiras armas do pensamento, pois aprender a falar e a ler (ver, refletir, compreender) é aprender a pensar. Às vezes, se acentua a importância das histórias de brincadeiras para os primeiros anos, e, de fato, são essenciais para a educação da sensibilidade, mas são também básicos os relatos cheios de sentido.

Mas, se a qualidade dos álbuns ilustrados que se colocam ao alcance das crianças é fundamental, o que não mudará nunca é o adulto-intermediário que conta e lê histórias para e com o garoto, que responde às suas perguntas e estimula o apetite de ler.

Luis Daniel Gonzalez é professor e especialista em literatura infantil.


Fonte: INTERPRENSA - ANO IV - Número 39 - www.interprensa.com.br

 





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